sexta-feira, 30 de maio de 2008

E o Celtics acompanha

O Boston Celtics acabou de vencer o Detroit Pistons e fechou a série final da conferência Leste, em seis partidas. No fim, faz-se justiça ao time de melhor campanha da temporada, apesar de continuar achando o time do Michigan dono do melhor elenco da NBA.

A vitória do Celtics passa muito pela recuperação. Coletivamente: depois de perder o segundo jogo da série, em casa, recuperou-se na partida posterior, na quadra do oponente. Individualmente: depois de atuações muito ruins, Ray Allen aproximou-se do rendimento habitual, sendo decisivo nas duas partidas decisivas.

E a derrota do Pistons passa muito pela inércia. Coletivamente: em vários momentos, faltou vibração ao time - destaque para as partidas três e seis, as derrotas em casa. Individualmente: Tayshaun Prince, diferente de Allen, começou e terminou a série com atuações fracas e apáticas, deixando o Pistons "na mão".

Como não poderia deixar de ser, o que impressiona no Celtics é o senso defensivo. É uma equipe em que nem todos atacam, mas todos defendem. Este é o tipo de postura e entrega necessários em um time que pensa em ser campeão. Reflexo de um elenco já veterano, em busca dos merecidos anéis, a coroação da carreira.

Quando a defesa funciona, o Boston Celtics torna-se um time sufocante e impiedoso. Páreo duro para qualquer franquia atual. Foi com o funcionamento do sistema defensivo que o time comandado por Doc Rivers recuperou-se, virou o jogo de hoje e conseguiu a vaga. No último quarto, o Celtics jogou porque não deixou o Pistons jogar. Contra o Lakers, a receita é a mesma.

O Lakers já está lá

O Lakers precisou de apenas cinco jogos para alcançar a final da NBA. Venceu o Spurs, com autoridade. Errei feio minha previsão, onde disse que o time do Texas passaria após sete partidas. Não subestimei a qualidade dos angelinos, mas superestimei a experiência dos comandados de Gregg Popovich.

Como acreditava em uma série com sete embates, apostei no costume de decidir do Spurs - que já havia feito a diferença contra o Hornets. Não aconteceu. Quebrou minha expectativa e arrebentou a lógica da minha previsão.

O que impressiona na equipe do Lakers é a forma como valores individuais tão apurados conseguem se combinar com jogadores medianos e fracos para formar um coletivo muito forte. Kobe Bryant brilha, mas todo o time joga - quem tem mais e menos recursos. Por isso que eu digo: o elenco pode ter Kobe, Odom, Gasol, Fisher, mas o diferencial mesmo está em Phil Jackson. Disparado, o melhor técnico da NBA - genial, competente e vencedor.

Outro merecedor de lembrança é o GM do Grizzlies, Chris Wallace. Acho que a franquia de Memphis ainda vai coletar benefícios com a troca, mas a aquisição "barata" de Pau Gasol foi fundamental para o Lakers. Especialmente, após a contusão de Andrew Bynum. Gasol, assim como Bynum, é um atleta de garrafão que chama atenção do oponente - com o bônus de ser mais técnico e "concreto" (ainda considero Bynum um jogador que precisa ser muito trabalhado).

Com um bom elenco, maximizado pelo excelente trabalho de Phil Jackson, o Lakers deverá ser considerado, pela maioria, favorito ao anel de campeão. Não importa quem venha do Leste. Eis onde pode residir o erro. Lembrando: na temporada regular, o recorde do time de Los Angeles é 1-3 contra os finalistas da conferência Leste - Celtics (0-2) e Pistons (1-1).

sexta-feira, 23 de maio de 2008

As Finais

Nesta semana, as séries finais de conferência tiveram início. Duas séries que apontam para a lógica. Se alguém apostasse pragmaticamente nas decisões, acertaria as duas. No Leste, chegaram os dois melhores. No Oeste, chegou o "melhor" contra o mais experiente. Aqui vai o meu parecer sobre as séries:

Leste: Boston Celtics 2 X 4 Detroit Pistons

A série está empatada, após os dois jogos em Boston. Pode parecer oportunismo, mas sempre apostei no Pistons. O time comandado por Flip Saunders é mais experiente e possui um elenco muito mais forte. Hoje, julgo Detroit como o melhor plantel da NBA. É o meu favorito ao título.

A trajetória de ambos nos playoffs possui um paralelo interessante: os dois tomaram sustos. A diferença é que o Pistons absorveu o golpe e aprendeu com a situação, diaparando em seguida. O Celtics convive com estes imprevistos, utilizando o fator quadra como salvação. Nenhum time é campeão desta forma.

A grande diferença entre as duas equipes é que o Pistons troca jogadores, usa o elenco, e a organização continua lá, intacta. Pelo lado do Celtics, a ausência física ou qualitativa do Big Three é causa para um colapso técnico. Se Garnett, Pierce e Allen não funcionam, ou não impedem o oponente de funcionar, o time de Boston fica entregue. Coisa que fiz questão de realçar aqui e no NBA Jumper várias vezes.

Na partida de ontem, ainda houve um agravante: a recuperação plena de Chauncey Billups. Se Jameer Nelson ainda preocupava o veterano no ataque, Rondo nem isso consegue. O jovem armador não oferece ameaça no ataque (chute de 3 inexistente, arremesso ainda deficitário) e não foi capaz de impedir um Billups mais incisivo ofensivamente. A história da pós-temporada diz: quando Boston cai no ritmo do adversário, perde.


Oeste: Los Angeles Lakers 3 X 4 San Antonio Spurs

Aqui, estou realmente em dúvida. É bem duvidoso. Como acho que a série vai ao jogo sete, digo Spurs porque crescem na hora da decisão. No entanto, nada é garantido. E o favoritismo, contrariando minha posição, é da franquia angelina.

Será importante para o Lakers contar com a genialidade do treinador Phil Jackson. Quebrar a organização do Spurs não é apenas produto de bons desempenhos individuais. Trata-se de esforço e disciplina coletiva, disposição estratégica. Ou seja, a área de Jackson. Vencer o time do Texas é questão de alterar a seqüência habitual: quebrar a típica ordem e tranqüilidade com a qual um time altamente entrosado costuma atuar. Tirar o controle do Spurs.

Para o Spurs vencer, fundamental será a presença de Bruce Bowen. Ele é o homem que marcará Kobe Bryant. Limitar o MVP da temporada é passo importante rumo ao triunfo. Qualquer um que acompanhou jogos do Lakers sabe que o desempenho de Kobe influi diretamente no do Lakers. Não trata-se apenas dele bem ou mal, mas de Lakers bem ou mal.

Para mim, Gasol e Odom em estado de graça não são capazes de compensar uma atuação abaixo da média de Bryant, contra um time como o Spurs. Especialmente, na hora da decisão. O Lakers pode ser forte, mas Kobe é fundamental para esta força.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Sobre problemas e soluções

Quando o armador Chauncey Billups contundiu-se, muitos disseram que o Detroit Pistons corria sério risco de perder a série semifinal do Leste para o Orlando Magic. Sem o seu principal jogador em quadra, as expectativas sobre a franquia do Michigan caíram. No entanto, o Pistons venceu as duas vezes que atuou sem Billups. Fechou o confronto contra a equipe da Florida em cinco partidas.

No âmbito da obviedade, muitos questionarão a qualidade do Orlando Magic. Não é por aí. Das quatro vitórias do Pistons, três foram de virada e, em duas, entrou o último período perdendo. Já o triunfo isolado do time de Stan Van Gundy foi conquistado com uma considerável vantagem. Logicamente, faltou algo para o Magic. Mas não foi qualidade. Foi experiência e elenco, opções para mudar a partida.

Retrucarão dizendo: "é, mas Detroit jogou sem o armador titular". E eu direi algo que parecerá absurdo, mas é verdade: a falta de Chauncey Billups foi determinante para a vitória "tranqüila" do Pistons. Fez bem para a equipe contra o Magic.

Isso porque, basicamente, o criticado treinador Flip Saunders encontrou uma solução interessante. Benefícios de um time que tem (ao meu ver) o melhor elenco da NBA. E um técnico minimamente capacitado para utilizar este excelente plantel. A solução para o Pistons foi uma velha conhecida: a defesa.

Mesmo marcado por Chauncey Billups, o armador adversário - Jameer Nelson, melhor jogador do Magic nos playoffs - estava mantendo um bom desempenho ofensivo. Na verdade, Nelson era a válvula de escape do seu time. Quando Lewis e Turkoglu não conseguiam finalizar, ou atraíam a marcação, a bola tendia a ir para o armador, já que Howard estava muito bem marcado.

Não tendo o "poder de fogo" de Billups, Saunders resolveu isolar Nelson em quadra. Como? Substituindo seu titular por dois exímios defensores - Rodney Stuckey e Lindsey Hunter. Com isso, o treinador isolou Nelson. O resultado? Lewis e Turkoglu com péssimos aproveitamentos de quadra e Orlando com um números impressionante de erros de ataque. A válvula de escape foi anulada. No último embate, o Magic perdeu 21 posses. O armador Nelson foi quem menos errou entre os titulares, só uma vez. Prova de que estava trabalhando limitadamente a bola.

Com isso, Flip Saunders pôde provar que é um pouco melhor do que os fãs do Pistons acreditam. Desta vez, ele fez tudo certo. Sua postura na série contra o Magic foi exemplar. Principalmente, porque soube mostrar que todo o problema, com inventividade, pode ser convertido em uma inusitada solução.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Oito passos para D'Antoni

Parece ser questão de tempo para que Mike D'Antoni deixe o Phoenix Suns. O treinador quer procurar um time onde seja menos questionado. A franquia quer contratar alguém com uma visão e preocupação mais "completa" do jogo (não apenas ofensiva). O obstáculo para ambos é o contrato de vínculo vigente entre eles: o Suns não quer arcar com o pagamento dos 8.5 milhões de dólares previstos neste compromisso.

Oito são os passos que distanciaram D'Antoni do Suns, chegando à separação definitiva que deverá ocorrer em breve:

1. Eliminações anteriores: O Suns encantou muitos analistas e torcedores com o seu modo solto e ofensivo de jogar. No entanto, as três eliminações seguidas nos playoffs trataram de derrubar progressivamente o encantamento. Com o tempo, a opinião sobre o run and gun passou de "forte e bonito" para "pouco competitivo".

2. Contratação de Steve Kerr: O ex-armador foi contratado para assumir os cargos de GM e presidente de operações do Suns. Com uma compreensão de basquete bem diferente da de D'Antoni, Kerr sempre fez questão de falar em defesa quando questionado sobre o time. O dirigente é o principal antagonista do técnico dentro da franquia.

3. Chegada de Hill e Skinner: As principais contratações do início da gestão de Kerr não possuíam perfil adequado para atuar no run and gun de D'Antoni. Jogadores típicos para um esquema mais cadenciado de jogo. Pareceram uma forma "prática" do dirigente dizer que exigia algumas mudanças na forma do Suns jogar.

4. Troca de farpas pública: O momento mais crítico da relação D'Antoni/Kerr. Na metade da temporada, dirigente e treinador utilizaram a imprensa para soltarem indiretas um contra o outro. O ex-armador voltou a falar em defesa, cutucando D'Antoni. O técnico respondeu dizendo ser incoerente um atleta como Kerr (arremessador, sem grandes qualidades defensivas) falar (ou exigir) em defesa. Acabou apartada.

5. Shaquille O'Neal: Kerr não teve dó. Trocou Shawn Marion, um dos jogadores mais importantes do sistema de D'Antoni, e trouxe o veterano Shaquille O'Neal - visivelmente preocupado em dar força defensiva e experiência ao elenco do Suns. Com Hill e Skinner, o dirigente mandou um recado. Com Shaq, ele se fez entender.

6. Nova derrota para o Spurs: A escrita continua. Na pós-temporada, confronto contra o San Antonio Spurs e nova derrota. Apenas uma vitória e atuação incrivelmente apática no jogo mais importante da série - o três, em Phoenix. D'Antoni nunca foi tão contestado e o treinador perde ainda mais apoio.

7. A reunião: Na última sexta-feira (02), passada a eliminação, reuniram-se D'Antoni, Kerr e o proprietário do Suns, Robert Sarver. Os dirigentes teriam exigido mais ênfase em treinamentos de defesa, maior participação dos reservas e trabalho de aperfeiçoamento em alguns atletas, como Amare Stoudemire e Leandrinho. O treinador não gostou.

Por que D'Antoni não aceitou? Além de ser intransigente quanto ao seu estilo de trabalho e filosofia de jogo, o treinador considerou exagerada tais exigências para um time que - desde a campanha 2004-2005 - acumula média de 58 vitórias por temporada regular. D'Antoni ainda considera normal ser eliminado três vezes em quatro anos por um time experiente como o do Spurs.

8. Liberação para entrevistas: Há dois dias, Steve Kerr liberou D'Antoni para ouvir propostas e ser entrevistado por outras equipes. Dizem que o dirigente atendeu um pedido pessoal do técnico. Agora, a intenção do Suns é clara: que alguém queira contratar o treinador e, com isso, o time fique liberado do pagamento da multa rescisória.

Nos últimos dias, o Chicago Bulls apresentou grande interesse em contratar D'Antoni. É seguro dizer que a "separação" é questão de tempo.

UPDATE: Mike D'Antoni foi confirmado como novo treinador do New York Knicks.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A creche do Larry

Uma das principais notícias da semana foi a contratação do veterano Larry Brown pelo Charlotte Bobcats. Esta notícia voltou a encher de esperanças a comunidade da NBA em relação ao futuro da franquia caçula da competição. Também marca o retorno de Brown ao comando de uma equipe, já que estava atualmente no posto de vice-presidente do Philadelphia 76ers.

No entanto, uma idéia boa nunca foi certeza de um resultado bom. O sucesso de Larry Brown no Bobcats deverá ser uma questão de "encaixe". Não duvido do talento do time, muito menos do treinador. Minhas dúvidas são: o Bobcats está preparado para Brown? E Brown, está preparado para o Bobcats?

As duas perguntas são estranhas, mas possuem uma lógica. Bobcats e Brown vivem momentos e possuem perfis que apontam mais para um distanciamento do que para uma aproximação. E aí que entra o tal do "encaixe".

Larry Brown é conhecido como um treinador que não possui uma grande simpatia por novatos. Sempre preferiu trabalhar com elencos formados, mais experientes. Brown ensina o jogo, não a jogá-lo. Depois de um afastamento, era de se imaginar que o veterano preferisse comandar uma equipe que respondesse ao seu perfil. Até porque postos de treinador em aberto não faltam.

O Bobcats tem um elenco bem diferente do que sugere a contratação de Larry Brown. Cheio de jovens, inexperiente, ainda em formação e esperando a vinda de mais um ótimo novato do próximo draft (TOP 10). É um grupo que precisa ser lapidado tática e tecnicamente. Hoje, a equipe de Charlotte continua sendo mais talento do que resultados ou certezas.

Então, o Bobcats está preparado para Brown? Não sei. O time nunca teve um treinador como o veterano. Bernie Bickerstaff e Sam Vincent parecem ser mais o "professor" do que o "técnico". A falta de resultados e a base jovem indica para uma ainda existente necessidade de aprimoramento dos atletas. Com certeza, será uma experiência nova para a maior parte do elenco.

E Brown, está preparado para o Bobcats? Não sei. O treinador quase nunca mostrou-se confortável com relação aos jogadores mais jovens - base do plantel da franquia. Está "não-ativo" há cerca de um ano e meio e encara um grande desafio como retorno, onde terá que conviver com a pressão por resultados e a vista-grossa de dirigentes participativos. Com certeza, será uma experiência nova para o veterano treinador.

Dois fatores ajudarão Larry Brown neste novo trabalho: a ótima relação com Michael Jordan e a adoração da Carolina do Norte por sua pessoa. No entanto, nova desclassificação na temporada regular não deverá ser facilmente tolerada. A grife Larry Brown existe. O currículo do treinador é vencedor. Mas novo fracasso para o Bobcats não fará de Brown menos criticado e contestado do que Vincent ou Bickerstaff.