domingo, 17 de agosto de 2008

Uma troca estranha

O Sacramento Kings deu um grande grito de "Fora, Artest!" ao trocá-lo com o Houston Rockets, por um valor que corresponde muito mais com sua complicada "vida social" do que com seu talento.

Rockets recebe Ron Artest e os novatos Sean Singletary e Patrick Ewing Jr., enquanto o Kings adquire o novato Donte Greene, além de Bobby Jackson e uma futura escolha de draft de primeira rodada.

Na minha opinião, uma troca estranha. Existem muitos times que necessitavam de um jogador como Artest. O Rockets, com Shane Battier sendo um dos destaques defensivos da última temporada, não era um deles. Além disso, acredito (não tenho certeza) que o Kings tinha melhores propostas de troca.

Para o Kings, o negócio parece ser mais vantajoso pelo que cedeu do que pelo recebido. Artest, além de ser um problema ambulante, não tinha mais clima para ficar em Sacramento. Era preciso negociá-lo, enquanto ainda tem um bom valor de mercado. Com isso, não digo que a franquia não trouxe bons jogadores.

Greene é um ala de grande potencial. Teve um rendimento fenomenal durante as Ligas de Verão e é um bom nome para protagonizar, ao lado de Kevin Martin, um movimento de renovação. A escolha de draft não deve render algo melhor do que a vigésima seleção. E Bobby Jackson, contrato expirante, é um excelente profissional (contrário do Artest): faz bem para o elenco e ainda tem alguma "lenha para queimar".

Além disso, é um prêmio pessoal para "Action" Jackson. Ele vai poder finalizar a carreira no Kings, time em que teve sua melhor fase na NBA. Adorado pela torcida, deve se aposentar nos braços dos fãs.

Para o Rockets, continua sendo estranho. Os novatos vêm de contrapeso. Escolhidos na segunda rodada, não trazem impacto imediato. Ewing Jr. deverá ser dispensado ou mandado para a Europa (a melhor opção, ao meu ver). É baixo e fraco demais para ser ala-pivô, não tem arremesso para ser ala. Singletary está mais preparado, é um armador correto, mas a rotação da franquia na posição está congestionada.

A vinda de Artest não faz sentido quando vemos o excelente rendimento recente de Shane Battier. O polêmico ala não vai ser reserva. Mesmo que injustamente, Shane deve ir para o banco. Talvez, a intenção do Rockets seja transformar Battier em um tipo de James Posey - um especialista de defesa e arremessador de três pontos para ser o sexto jogador do time.


No entanto, há um equívoco. Posey tem um potencial ofensivo capaz de fazê-lo um referencial para o ataque, mesmo saindo do banco. Battier não parece ter este caráter. Está muito mais para um Bruce Bowen - jogador para arremessar quando sobra sozinho e dar equilíbrio à defesa de perímetro do seu time. Este tipo de jogador rende melhor como titular.

Além disso, existem outras questões. Como a distribuição ofensiva do Rockets fica com a saída de um jogador de limitada participação ofensiva - como Battier - para entrada de Artest, que tenta (no mínimo) 12 bolas por jogo?

Peguemos como exemplo a contratação do Allen Iverson pelo Nuggets. Ele custou pouco para a franquia, como Artest também custou. No entanto, destruiu a distribuição ofensiva da equipe e criou um caos no time. Como o Rockets vai comportar dois atletas com o ímpeto de ataque de McGrady e Artest?

A resposta pode ter vindo de um companheiro de discussões do Orkut, Paulo. Para ele, Artest deve funcionar como um jogador também para poupar T-Mac durante a temporada. O que faz sentido. Neste caso, a funcionalidade do ala dentro do elenco é mais como um "reserva implícito" de McGrady do que como um titular de Battier.

Esta explicação faz a troca menos estranha. Embora continue estranha. Afinal, Battier vai virar suplente. Teremos McGrady e Artest juntos. Nestes momentos, o Rockets vai precisar de compreensão e disciplina. O que Artest nunca teve ou mostrou na carreira. Posso estar errado, mas estou com a mesma impressão de "vai dar errado" ou "não vai dar muito certo" com que fiquei no negócio que levou Iverson para Denver.

Para o Kings, serve como um bom passo rumo a uma renovação tardia. E, acima de tudo, como um ritual de exorcismo tão tardio quanto. Como diria a personagem da atriz Zelda Rubenstein, em uma passagem clássica do filme Poltergeist: "Esta casa está limpa!".

No NBA Jumper, existe um artigo com a minha opinião sobre a outra grande troca que movimentou a semana - a transação que levou o armador Mo Williams para o Cavaliers. Confira!

5 comentários:

Vinícius disse...

Ricardo, concordo plenamente, completamente estranha essa troca, para o Rockets que ja tem o Shane Battier e para o Kings que entregou ele de graça.

Anônimo disse...

concordo plenamente ;D

no minimo esquisita a troca...

Anônimo disse...

o Kings até fez um bom negócio
pego um expirante, jogadores novos
e escolha no Draft por mais que seja "alta" pode ter um bom jogador lá, como o Tony Parker que foi as escolha 28.

Anônimo disse...

Do lado do Kings, realmente fica a impressão de que poderiam ter arranjado negócio melhor.
Entretanto, por baixo dos panos, ninguém sabe ao certo quanta grana em dinheiro rola nessas negociações.

Já do lado do Rockets, até concordo com a análise sobre o Battier, mas vejo com bons olhos a troca.
Acho que vale a pena arriscar quando se está adicionando talento à equipe.
Se vai dar certo, obviamente depende da consciência de cada jogador e do comando técnico.
Yao, Artest e T-Mac devem passar a ostentar estatísticas individuais menos vistosas do que nos últimos anos. Não dá para todo mundo ter média de 20 pontos por jogo...
Por outro lado, veja-se que o Houston agora tem mais uma arma para a eventualidade de novas contusões, já que - nos últimos 2 anos - Yao e McGrady se revezaram no estaleiro e deixaram o time na mão.
A grande sequência de vitórias na última temporada regular e o crescimento do armador Rafer Alston são algumas provas contundentes de que o Rockets pode, sim, voar mais alto.

Anônimo disse...

O grande exemplo para esse "Projeto Artest" no Rockets é o Ray Allen, que abandonou o costume de chutar 1000 bolas por jogo assim que chegou ao Celtics.

Acostumado a ser sempre a estrela solitária de times fracos, Allen passou a arremessar menos, porém mantendo o altíssimo aproveitamento e sempre se posicionando muito bem para jogadas preparadas e tiros decisivos.
Uma arma letal.

Artest é um puta defensor, que joga sempre com muita energia e - de quebra - arremessa muito bem.
Vai encontrar seu papel nesse time do Houston.